quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A Ladra.




Ela vinha sorrateira, assim como quem nunca quer nada. Com sorriso divinamente cativante, contava histórias e, se necessário, até mesmo lacrimejava para dar credibilidade ao que dizia. Tinha, em sua essência, o charme que seduz e ilude. O charme que ilude e mata.

E era sem pressa alguma que ela se aproximava de suas vítimas tão cuidadosamente escolhidas. Falava-lhes ao pé do ouvido, acariciava-lhes a nuca, entorpecia-lhes os sentidos, mas sempre com um semblante de anjo no rosto. Envolvida nessa atmosfera angelical, a vítima não via por que não se deixar entregar a seus beijos e abraços, ao amor que dela exalava como perfume natural. Cega, a vítima praticamente não tinha o coração roubado; ela própria o entregava nas mãos daquele suposto anjo..

Em pouco tempo, a ladra saciava as suas vontades e a carência de ser amada e desejada, cansava-se do coração roubado e tinha sede de usar seu charme para novas aventuras. Todavia, por mais que não mais o quisesse, não dava liberdade ao coração roubado e agora abandonado. Deixava-o definhar em um canto até que este perdesse completamente a vida e depois se desfazia dele como carne putrefada. Todavia, ao se desfazer de um deles, enterrando-o, viu que ali surgiu uma pequena flor.

Com o passar dos dias, a ladra mirava pela janela e via que a flor ganhava mais beleza e vida, num afronte direto ao seu poder de destruição. Movida pela cólera, destruiu a flor com suas próprias mãos, sentindo as pétalas fenecerem entre seus dedos. Seus olhos brilhavam como nunca dantes. Destruíra duas vezes um mesmo coração e isso a revigorava.

Todavia, como Fênix, a flor insistiu em florescer novamente, insultando o poder de destruição daquele demônio com semblante de anjo.

By Anne Addison